terça-feira, 18 de maio de 2010

Fenômeno de amadurecimento e adaptação do violão ao tipo de toque

Como sabemos a forma como você toca faz o violão vibrar de determinada forma. Quando você produz um som doce, por exemplo, o violão está vibrando de determinada maneira. Quando você produz um som estridente, de outra. Daí, juntamos esse fator essencial, com o amadurecimento do instrumento.

O que é o amadurecimento do violão?
Basicamente, processo de secagem da madeira, acomodação das tensões internas de colagem e cristalização do verniz. Na secagem da madeira, temos um processo contínuo de perda de umidade. Existe aquela umidade entre as células (intercelular), que sai rapidamente, e aquela umidade proveniente da água dentro das células (intracelular), que demora muito mais pra sair. A medida que o tempo passa, a água intracelular vai saindo, fazendo com que a madeira tenha cada vez mais células "ocas" que ressoam mais. Além disso, nesse processo de saída da água, a madeira se mexe, encolhe, se torce, mudando a forma de tensão interna do violão. Essa água pode sair primeiro de certas regiões, e em outras ainda permanecer mais tempo, fazendo com que o a madeira vá se alterando de forma bem peculiar de acordo com que regiões ficam secas ou úmidas. E a forma como isso se dá nos primeiros anos, determina muito como a madeira vai ficar no futuro. Na acomodação das tensões de colagem, temos um processo em que as madeiras são submetidas a um certo esforço, ao serem dobradas, coladas, encaixadas... Com o passar do tempo, esse tensionamento tende a diminuir, com a madeira cedendo em certos pontos, o tampo abaulando, as juntas coladas folgando um pouquinho. O violão vai mudando estruturalmente. Na cristalização do verniz, ele vai perdendo umidade, e ficando mais sólido, e nesse processo, vai também se entremesclando mais com a madeira. É até visível num violão depois de alguns anos que os veios da madeira que antes não apareciam passam a aparecer. Esse processo vai alterando muito a sonoridade, também.
Isso posto, juntando esses fatores, veremos que ao tocar, nós conduzimos, de certa forma, as vibrações do violão. E quando o violão vibra de certa forma, todo o processo de secagem, relaxamento e cristalização descritos acima ocorre influenciado por essa vibração. Se determinada vibração favorece certo tipo de sonoridade, e você sempre busca essa sonoridade ao tocar, é natural que o amadurecimento do violão acabe acontecendo de forma a favorecer isso. A água vai secar primeiro naquela região que vibra,, a tensão vai relaxar primeiro ali, e provavelmente a cristalização do verniz também ocorrerá ali de forma mais acentuada. A vibração muda a ordem natural que as coisas aconteceriam. Isso posto, o que um violão ganhou, não se perde completamente. Um violão maduro, de 50 anos, nunca vai soar como um violão novo, por mais tempo que fique parado. Ele já não tem a mesma umidade dentro da madeira, a cola já relaxou, o tampo já abaulou, o verniz já está cristalizado... O que pode acontecer é ele ficar muito tempo parado e a madeira ficar menos flexível, por se acostumar a ficar parada, as junções enrijecerem um pouco, e a umidade ficar contida dentro do estojo e acabar, por osmose, se homogeneizando ao longo das células da madeira. Mas, ao tocar ele novamente, ele volta rapidamente. Talvez, esse tempo parado tenha acabado por determinar alguma mudança determinante no instrumento, mas isso pode ter pouca dimensão, se o violão já é maduro.

Enfim, é a minha visão sobre esse fenômeno de amadurecimento e adaptação do violão ao tipo de toque do dono.

(texto extraído do fórum http://www.violao.org/)
by Samuel Huh
http://www.guitanda.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário