quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dicas para comprar seu instrumento

Não será muito exagero dizer que num instrumento X, para se chegar a um determinado nível, seria necessário cerca de 6 anos de estudo, e muita... mas muita dedicação e gostar demais de estudar música. Entretanto num instrumento Y, esse mesmo resultado poderia ser alcançado em menos de 2 anos, sem muito esforço, e sem se dedicar tanto, pois o instrumento facilita. Então pode-se afirmar que o bom instrumento é sem dúvida um acelerador no estudo da música, e para essa modalidade de mercado, não funciona a máxima "Vou comprar o mais barato... para começar serve!". Conforme o caso, o ideal é esperar um tempo antes de adquirir o instrumento, e ir estudando solfejo, história da música, assistindo concertos, enquanto faz às aulas até comprar um bom instrumento.

Passando por essa reflexão inicial, vamos às dicas:

Independentemente se é fabricado em série ou artesanalmente, se é de fabricação recente ou de mais de 50 anos, se é usado ou novo, se é de marca conhecida ou não, para comprar um violão clássico é preciso que se observe algumas recomendações:

*Mesmo que seja para utilização em apartamento após as 22h00, precisa ter um mínimo de volume para se escutar, sem depender de recursos eletrônicos.

*Precisa ter um bom timbre, ainda que o instrumento não tenha grande volume (no que se refere a relação entre duração do som, e definição de notas; o som individual de cada corda seja ela solta, ou presa, precisa ser "cantábile", durável e claro, longo e nítido)

* Quando as cordas são presas, a afinação por conta de temperamento é aproximada, contudo, que sejam mínimos os problemas de quintas, oitavas e de uníssonos - isso se o encordoamento for de boa qualidade

*O instrumento precisa ser construído de forma, que se bem conservado pelo proprietário e mantidas as regulagens e manutenções, o instrumento possa ter uma vida de N anos.

* O instrumento precisa ter um projeto, uma planta, um livro de receitas, uma padronização em constante revisão, e sem margem de erros, com materiais bem selecionados que possa facilitar o bom acabamento e regulagem para o usuário final (Por exemplo, infelizmente, em escala feita estreita demais, o proprietário que precisar trocar algum traste tem que trocar a madeira da escala por conta das "farpas" dos trastes quando esses saem). Madeiras verdes ou secas inconstantes são proibidas na construção de instrumentos, por culpa dessas temos que gastar dinheiro para mandar aos luthiers aparar as arestas dos trastes que são verdadeiras lanças só que em menor proporção.

*Exceto tarraxas, violão clássico não tem parafusos.

*Violão precisa ser por inteiro, arredondado. Redondo não, arredondado. Desde arestas da caixa até tarraxas. Toda a extremidade tem que estar arredondada. Mesmo as tarraxas, até essas tem que ser arredondadas em suas extremidades. A crítica, não é em relação ao modelo, ou desenho, tanto que poderia ser triangular... desde que as pontas sejam arredondadas.

*A distância entre cordas e escala, tem que ser mínima (principalmente na região do capotraste), contanto que não haja trastejamento, ou seja que as cordas não batam (vibrem) contra os trastes que não estão sendo utilizados.

*Precisa ter retorno financeiro, caso o instrumento precise ser vendido (ou seja, a relação marca x qualidade do instrumento tem que apresentar vantagens em curto e longo prazo, tendo que ter mais valorização do que depreciação). Conforme a situação econômica, no mercado especializado da música, o instrumento que tem no mínimo as características aqui descritas tem uma mensuração mais fácil. Um instrumento que não tem tais características, a revenda quando usado é mais difícil, pois não tem valor no mercado especializado não sendo considerado instrumento musical dentro da finalidade para que é proposto o violão (cordas dedilhadas). Mesmo os leigos e iniciantes sem orientação, preferem comprar instrumentos novos e (baratos)devido à facilidade de crédito na compra. (Conheço instituições que compraram instrumentos baratíssimos pensando na quantidade para oferecer aos alunos, sendo que logo que depois que excedeu o tempo de garantia, o instrumento empenou, ou saiu o cavalete. Uma economia ilusória, pois se compra mais barato hoje, vai gastar muito dinheiro amanhã com consertos, ou até a perda do instrumento)

*Poupança é um hábito que precisa ser incorporado à rotina de qualquer pessoa, em qualquer fase da vida. Se houver inteligência e criatividade, até o indigente consegue mudar de situação. Se a criatividade é substituída por "não posso" ou "muito caro", ou outras desculpas, nunca se conseguirá sair de onde está, ou se sair apenas pouca coisa mudará. Aliás, poupança tem que ser feito com planejamento seja ele definido ou não. Depois que analisar as recomendações e decidir por comprar um violão numa data definida, faça um cálculo de quanto terá de conseguir por mês. Caso contrário, vá guardando dinheiro. Quando chegar a hora de comprar seu instrumento, ele estará lá especificamente para isso. Os instrumentos musicais são muito baratos em relação a tantas outras coisas, e trazem inúmeros benefícios para quem os executa, mas por ignorância cultural e social, são considerados caros e inúteis. No caso do violão, são raríssimas exceções ao ditado "O barato sai caro", portanto planeje a compra do instrumento em conjunto com cônjuges, pais, professores, pois quão melhores forem as características do instrumento, melhores serão suas aulas, maior seu aprendizado. Em música não há instrumentos bons para profissionais, como se os profissionais fossem melhores músicos. Também na música, há profissionais diplomados, mas que são ignorantes; profissionais medíocres, e profissionais competentes. O bom instrumento, é uma lupa para se enxergar melhor, um avião para se chegar mais rápido. Um instrumento ruim, é areia nos olhos, é atravessar o oceano a nado.

Procure auxílio de seu professor ele poderá indicar um instrumento que poderá ajudar enormemente sua "decolagem", ou ajudar a ampliar (lupa) sua visão musical.


Antonio Henrique P. Bueno